Há amores maiores que outros

Estou, neste preciso momento, a meio de um daqueles meus momentos de choro intermitente. Escrevo frases sem sentido por meio de linhas tortas, envolvida num clima de acordes tristes, entre mil soluços e lágrimas que vão caindo, todas umas a seguir às outras até me tocarem os lábios. Elas vão deixando um rasto, que me queima a cara e salga a boca devido ao seu sal. Eu estou um caco, a verdade é essa. E apesar de tentar sempre lidar com tudo da melhor forma, eu não sou de ferro... eu sou um ser-humano, como todos os outros. E, como tal, também tenho sentimentos, também vacilo, também desabo por vezes. Mas embora esta minha extrema fragilidade não seja novidade para a maioria, ainda há quem veja em mim um "eu" que eu não sou; apenas aparento ser. Para dizer a verdade, nunca compreendi muito bem esta necessidade do ser-humano, de se fazer de forte em algumas situações e sorrir perante as mesmas, quando por dentro explodem de dor. Não deveríamos sempre ser honestos, tanto para com os outros, como para connosco próprios? Esta é (mais) uma (das) pergunta(s) que me atormenta(m), todos os dias, todas as noites: porquê fazermo-nos de fortes se, na verdade, não temos forças para nos manter assim?
Dou por mim a olhar-me ao espelho, com os olhos inchados e encarnados, questionando-me a mim mesma do porquê de ser tão sensível. É claro que não obtenho resposta; eu sou assim mesmo. E por mais esforços que faça para mudar isso, é algo que faz parte de mim, da minha maneira de ser. Eu funciono demais com o coração. Talvez seja por isso que nem sempre ajo da forma mais correta. Eu não sei ser 100% racional. É algo que me ultrapassa... e os sentimentos? Simplesmente não contam? Se calhar sou eu que me apego demais às pessoas, não sei. Talvez um dia eu descubra.
Olho pela janela e dou por mim a relembrar todas aquelas noites em que me vou deitar sem sono. É aí que começo a pensar no futuro. Não sei se é mania minha mas, sempre que não consigo adormecer, aquilo que me ocupa o pensamento, por largos instantes, é precisamente o futuro. Porém, não é só. Outros pensamentos teimam em tirar-me o sono, mesmo que me esforce para que tal não aconteça. São pensamentos, que consigo trazem sentimentos; sinto angústia, sinto medo, sinto um aperto na garganta. Aliás, eu sufoco-me com as minhas próprias perguntas, é como se o meu coração começasse a pesar cada vez mais no meu peito e eu deixasse de me conseguir sequer suportar. Conheces essa sensação? Aquela sensação de quando tudo aquilo que os teus olhos conseguem alcançar vira preto e branco, ainda que por meros segundos? Como quando te sentes tão angustiado ao ponto de só quereres dormir e não acordar mais enquanto te sentires assim, ou quando te arrepias até ao mais ínfimo lugar do teu corpo apenas porque pensaste em algo que não queres que aconteça? Aliás, algo que tens medo que aconteça, e que não possas evitar...? Quando imaginas alguém por quem davas a tua vida a partir, sem ti, para outro lugar, por um tempo indeterminado, sem certezas se a vais voltar a ver algum dia...? Já sentiste isto também?
E alguma vez choraste tanto, que depois quiseste chorar de novo e simplesmente já não tinhas forças para o fazer? Alguma vez desejaste que tudo aquilo de que tens medo não passasse de um sonho mau, do qual acordas e está tudo bem de novo? Alguma vez quebraste por dentro só de pensar que, de um momento para o outro, pudesses vir a perder tudo aquilo que mais queres manter contigo? Alguma vez olhaste para trás e pensaste que se calhar podias ter feito as coisas de outra forma, de uma forma menos inconsciente, menos indolor...? Alguma vez te arrependeste tanto de não ter aproveitado todos os segundos da melhor maneira, ao ponto de desejar que esses mínimos segundos voltassem, para o poderes finalmente fazer? Alguma vez deste por ti a ouvir uma música e a relembrar certos momentos, certas palavras, certas conversas, enfim, coisas especiais para ti, e que provavelmente não se voltarão a repetir? Alguma vez desejaste tanto poder prever o "amanhã", só para poderes dormir com a certeza de que não vais acordar um dia e ver que perdeste algo, ou alguém...? Alguma vez sentiste um nó formar-se na tua garganta enquanto pensavas no teu futuro, e te apercebias que a pessoa que tu mais querias incluir nele, poderia não vir a fazer parte dele? Dói, não é? E dói tanto, que quando parece que te habituas a essa dor, parece que ela se transforma numa espécie de dormência, que te deixa impávido, e até pálido; perplexo e sem reação. Só pedes que isso passe, mas, no fundo, nem tu próprio sabes como. Respiras fundo, na tentativa desesperada de te acalmar. Enxugas as lágrimas e enches-te de coragem. Acalmas-te. No entanto, sabes que a dor não desapareceu... ela apenas estabilizou. E como a dor em si é um ciclo, ela irá voltar. É algo inevitável, inadiável. É mágoa pura. Mas sabes o que é mesmo? Amor. É isso mesmo, Amor. Se não (te) amasse tanto, não sentiria nada disto. Mas amar-te é tão bom, que compensa tudo isso. Por isso, fica a meu lado enquanto o tempo o permitir... é tudo o que te peço agora. Só isso, nada mais; nem poderia ser de outra forma. Tu és tudo aquilo que eu sempre quis. Será que percebes a importância que tens para mim? Eu arriscaria até dizer que tu já constituis uma - grande - parte da minha vida. Perder-te é morrer por dentro. Saber que vais ter de partir mais dia menos dia dói tanto ou mais quanto saber que nada posso fazer para mudar isso, corrói-me por dentro. E quando realmente partires... uma parte de mim irá contigo. Isso, eu te garanto, aqui, agora, e com a mais pura das certezas. Tu estás em mim, de todas as formas possíveis e imagináveis. E, de certa forma, vais sempre estar. Sabes disso, não sabes? Meu (Grande) Amor...?

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