A termo certo

Dou por mim mergulhada num mar de mágoa e desilusão, ondulado por uma brisa de rancor e uma pitada de vergonha. Porque o meu mar não salga: ele corrói. Digamos que o tempo não tem amenizado a minha dor. Ele simplesmente se tem deixado manusear por mim de modo a omitir aquilo que, na maioria das vezes, prefiro não lembrar. Não posso mentir ao ponto de dizer que não tem resultado, mas, como tudo na vida acaba, o prazo de apaziguamento da minha dor não fica atrás. Todos temos fases; no fundo, nada dura mais que apenas momentos. Os maus, acabam por ser um ensinamento; os bons, eu perpetuo e faço deles a minha razão, a minha força. Mas se há coisa que aprendi, é que a família nem sempre vem em primeiro lugar como dizem. Não foi de ânimo leve que aceitei esta realidade, nem tampouco a digeri. Fui mastigando aos poucos, até ser capaz de a tomar como hipótese. E falando em hipóteses... que hipótese tive eu até hoje? Que opção me deste? A resposta demora e, para pior dos meus males, nunca chega(s). Espero(-te)?

Tu deverias ser o meu herói. O homem da minha vida. O único que jamais me abandonaria. Mas a vida é feita de contratempos e obstáculos, e como sempre foi mais fácil para ti evitá-los, preferiste abandonar-me; abandonar-nos; abandonar-te. Quiseste perder-te. A tua alma grita por socorro, mas como queres que te encontre?! A decisão passou por ti, ainda que a tua visão se encontrasse turva e o hálito te tenha denunciado por várias vezes. Os teus olhos já não nos olhavam da mesma forma; tinhas feito um pacto com a Morte e não havia volta a dar. E apesar de todos os erros que cometeste, toda a confusão que causaste, quer aos outros, quer a ti mesmo, tu nunca estiveste sozinho. Porque apesar de tudo, tu tens Sorte. E quem apanha com os danos colaterais são aqueles que suportam o teu azar e aparam os estilhaços. Mas afinal, que sei eu? "O fedelho". Limito-me a cuspir palavras em vão contra um teclado, que nunca te irão magoar a ti mas sim a mim, como pedras atiradas a um espelho - e eu já estou farta de me cortar nos vidros. Às vezes acho mesmo que perdi a esperança. E se, por acaso, ainda tiver alguma réstia sua dentro de mim, peço-te que acabes com ela. Vá, força!, tira-ma!, leva-ma como levaste todo o carinho, respeito e admiração que ainda era capaz de sentir por ti!, amassa-a como fizeste com a confiança que sempre depositei na tua figura e joga-a no lixo, tal e qual como com todo o amor que sempre te demos e nunca soubeste retribuir. Só não tragas nada disso de volta. E, se assim o entenderes, não voltes também. Afinal, tu já partiste há tempo demais para te considerar presente.

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