Feminismo e seus porquê's: o "bicho-papão" preferido dos leigos

O termo feminismo (do francês, féminisme) suscita controvérsia desde os primórdios da sua criação, tendo surgido no âmbito da Primeira Guerra Mundial. Hoje, a luta pela emancipação feminina faz-se além das grandes praças, conquistando o merecido destaque junto do mundo digital graças à Internet. E porque o tema parece dividir opiniões, o vaivém de manchetes tende a aumentar; jornais de renome dão palco a artigos imbuídos das mais insensíveis barbaridades acerca do tema; as redes sociais entopem de posts falaciosos. Mas, no meio do burburinho, o que é, afinal, ser feminista?

Primeiramente, há que desconstruir o estigma em torno da pessoa que se diz feminista e esclarecer o que esta não é, colocando um fim à bagagem de ódio que tantas vezes surge atrelada ao movimento e justifica a sua necessidade de existência na sociedade contemporânea – afinal, por que se criaria algo que é inútil? Acima de tudo, feminismo é sobre dar o mesmo poder de escolha a homens e mulheres (entre tantas mais coisas), o que, traduzido em miúdos, significa que podemos ser o que quisermos independentemente do órgão que carregamos nas calças. Simples, não? Para alguns, nem tanto. No livro Feminists Don't Wear Pink and Other Lies (2018), a autora Scarlett Curtis reúne palpites variados (de homens e mulheres) e pinta, assim, o retrato da mulher "tipicamente feminista" aos olhos da maioria: máscula, raivosa; "a solteirona" que não veste cor-de-rosa, rejeita a depilação e repudia maquilhagem; provavelmente é lésbica e tem aversão a homens. Um verdadeiro estereótipo com pés e cabeça, que só vem provar a pertinência deste desafio. Agora, mais que nunca, é preciso aprender para, posteriormente, poder educar. Em plena era da informação, o acesso à mesma torna alguns juízos praticamente inconcebíveis, mas que ainda assim tendem a propagar-se, deturpando a imagem de todo um grupo ao mesmo tempo que incentivam a ignorância.

«Já conseguiram o direito ao voto, o que é que querem mais?» – acuse-se a mulher que nunca tenha ouvido tal expressão. O segundo passo é precisamente dar a conhecer o feminismo enquanto movimento em prol da igualdade, rompendo com a ideia de que este tende a favorecer um género em detrimento de outro. Acontece que, por vezes, a designação "[FEMIN]-ismo" adquire um sentido errado, daí ser tão importante esclarecer que a ideologia feminista não exclui os homens nem luta contra eles, pelo contrário. O combate ao «Homem que é homem não chora!», sim, é real; a sociedade está repleta de situações pautadas por um perigoso sentimento de masculinidade tóxica, situações essas que precisam de ser urgentemente revertidas a fim de evitar piores repercussões para os filhos e netos do amanhã. Enfim, "conversa de gaja".

Correndo o risco de divagar, julgo essencial salientar que a crença numa supremacia feminina tem, pois, o nome de femismo e que em nada se revê nos princípios básicos do feminismo decorrente da Revolução Francesa, sendo eles a igualdade (política, económica, social e interseccional), a empatia, o respeito e a inclusão. Infelizmente, e ao contrário do que se pensa, estes direitos estão ainda longe de serem plenamente fomentados – basta "dar um pulinho" até ao Médio Oriente, por exemplo. Por isto e muito mais, é dever coletivo abraçar a diversidade e prestar auxílio às tantas mulheres inseridas em grupos minoritários pelo globo fora. Faz falta trazer à ribalta mais questões ligadas à saúde e ao corpo da mulher, como sexualidade e direito ao aborto. É também preciso pôr termo à desigualdade salarial entre homens e mulheres, promovendo a participação feminina em cargos de chefia. Em suma, é urgente lutar contra a subsistência de quaisquer padrões duplos que diminuam o papel da mulher na sociedade, por isso "bora" envolver mais as mulheres na política! Rejeitemos os padrões de beleza e comportamento impostos pelos meios de publicidade! E encaremos, de uma vez por todas, as centenas de casos de assédio e violência com o mesmo compromisso de quem vai religiosamente à Luz ver o Benfica. Mas eu sou só uma miúda de vinte e três anos; nada sei além de que falar é grátis. O que custa, aparentemente, é ser humano.



Texto adaptado da minha monografia final de curso e transformado em artigo de opinião. Publicado pela primeira vez na versão em papel do Jornal Correio de Lagos, a 19 de fevereiro de 2020. Postado no blogue após leves modificações, a 8 de março de 2020, a fim de assinalar o Dia Internacional da Mulher.

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