Onde, oh Liberdade?

Hoje tive a oportunidade de entrevistar um ex-combatente da Guerra Colonial portuguesa. Mais um de tantos que me entram pela porta da redação a desabafar as suas histórias, as quais escuto com a maior atenção e sempre de coração na boca.


 

Enquanto me recordava algumas memórias mais amargas, por entre morosas pausas e detalhes que só pude tentar imaginar, notei, ainda assim, um optimismo estranho no senhor Manuel. Questionei-o: “Como foi viver sob tamanha violência dia após dia? Alguma vez se questionou?” A frase que se seguiu regalou-me o maior arrepio que sentira nos últimos tempos: “Era matar para não morrer”.

E assim, ali, na sua pequena sala, percebi que nunca vou poder compreender aquilo que não vivi. Senti-me impotente perante os meus antepassados; frágil, pequenina. Embora procure conseguir; apesar de tentar posicionar-me ao máximo do lado certo das lutas: há sentimentos que a minha geração nunca irá decifrar — talvez seja pelo melhor. De olhos inundados, naquele momento foi como se me tivesse passado pela frente um filme que não vi. Podia jurar que incorporava praticamente tudo aquilo que o senhor Manuel me desvendara.

E à luz da minha medíocre compreensão, de goto embuchado por tudo o que ameaça a democracia atualmente, perguntei-lhe se conseguia descrever-me o que sentiu aquando do 25 de abril. “O 25 de abril foi a alegria da gente. Oh, se foi. Era sinal de que se tinha acabado tudo. A viagem de regresso foi o dia mais feliz da minha vida”.

Há textos que não precisam de conclusão. Este é um deles. 🌹

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