Sentença

Sinto-me a desfalecer. Este sentimento não é repentino, mas é espontâneo, tal como aqueles de pura euforia que, por serem tão súbitos e naturais, se tornam contraditórios. Este sentimento é, pelo contrário, algo gradual e demorado, como se fosse uma semente que plantaram em mim há já imenso tempo, e que tem vindo a germinar desde aí, conforme as "fases". Não posso dizer que estou propriamente a atravessar uma má, só que também não é óptima, e digo-o com toda a certeza de que disponho neste momento. Sim, porque eu estou a transbordar de tudo, menos de certezas. Mas como hei-de explicar algo que nem eu própria consigo entender? Aliás, como hei-de explicar algo cuja origem desconheço? É complexo, de facto. É das tais coisas que podemos sentir interiormente, mas que se o explicarmos a alguém vai soar completamente absurdo e ridículo, porque ninguém entende. Por mais explicações que tentemos dar, por mais que desabafemos ou que nos queixemos disto que tanto nos atormenta os pensamentos, as pessoas nunca vão conseguir entender realmente. Algumas tentam, porém, não atingem. Outras, fingem tentar. Fazem-no por simpatia, ou até mesmo por interesse. Afinal, hoje em dia, quem não quer saber dos pontos fracos de cada um? Algumas delas até o fazem precisamente por isso, para que lhes dêmos a conhecer os nossos pontos mais fracos e para que possam, futuramente, utilizar esse conhecimento para nos deitar abaixo. Aliás, tais atitudes já nem me espantam, para ser franca; já me habituei tanto a isso, que simplesmente guardo para mim. Assim não corro qualquer tipo de riscos - se bem que sei perfeitamente em quem posso e em quem não posso confiar - porque afinal, eu por vezes custo a acreditar até em mim própria; quanto mais nos outros...
No entanto, estou a dispersar-me do tema essencial que aqui me trouxe hoje, a esta hora, isto é, da razão que me fez quebrar um pouco a tal promessa que referi anteriormente. Mas escrever alivia-me; é como se me lavasse a alma, como chorar, por exemplo. Estava a precisar de deitar isto tudo "cá para fora", e ao menos aqui não tenho de lidar com quaisquer tipos de problemas de expressão barra interpretação quer de segundos, quer de terceiros. Sou só eu e a minha página, sem opiniões, sem julgamentos, sem fingimentos; sou livre aqui.
Adiante...
...estava eu no meu quarto, há umas horas, precisamente minutos antes de ir tomar banho, e eis que sou atacada por mais uma daquelas minhas crises de auto-estima; o prato do dia, portanto. Apercebi-me, de há um tempo para cá, que estou mais gorda do que estava há uns meses, e senti-me horrível. Desfiz-me em lágrimas naquele exato momento e ali fiquei, a soluçar, baixinho, para que ninguém me pudesse ouvir, pois isso significava ter de explicar o porquê de estar naquele estado, sabendo que isso era algo que eu não iria ser capaz de fazer... muitas vezes, as pessoas que me são mais próximas tentam confortar-me com palavras meigas e doces, na tentativa de me fazer ficar bem, por assim dizer; e eu limito-me a questionar a veracidade de tais palavras pela simples razão: eles são meus amigos; logo, o que mais querem, à partida, é ver-me bem. Mas será que isso implica mentir-me? Quer dizer... eu não sei se me mentem mesmo. Eu apenas sei que não me consigo ver da forma que os outros dizem ver-me. Mas lá que gostava, gostava...
Confesso que isto me magoa. E magoa-me pelo simples facto de eu não conseguir ter o mínimo de confiança em mim própria. Eu esforço-me tanto, mas tanto... mas claro que ninguém nota; as pessoas limitam-se a julgar-me por aquilo que eu muitas das vezes aparento ser, mesmo sem querer, e nem se preocupam em conhecer-me realmente. Logo eu, que sou uma pessoa tão transparente quanto à minha personalidade... e isso também dói cá dentro. Sinto que sou julgada a todo o minuto, por ser isto e aquilo - supostamente - ou por olhar desta ou daquela forma. Mal sabem "eles" dos meus medos, das minhas inseguranças, e até mesmo dos meus motivos.
Por outro lado, outra coisa que me tem vindo a destruir por dentro aos poucos, é o facto de me menosprezarem constantemente. Sempre odiei pessoas que se acham mais que os outros, e vou continuar a odiar. O pior, é quando pessoas que considero amigas há imenso tempo, se começam a transformar noutras completamente diferentes. Aliás, começam a transformar-se exatamente naquilo que sempre criticaram, o que é irónico... até porque falar e apontar o dedo é bastante fácil; a dificuldade, que distingue as pessoas com bom carácter das pessoas com mau carácter, está em fazer melhor e em superar aquilo que tanto tentam rebaixar. Sei que não sou o ser mais completo, mais bonito, mais ágil nem mais perfeito à face da terra, mas também nunca me convenci de que o era, nem a mim, nem a ninguém. A única explicação para tanto "bota abaixo", só poderia mesmo ser inveja, mas como eu não consigo sequer supor tal coisa, eu fico-me por admirar o vosso interior horrível e esse sim, é feio, horrendo. Só se sentem bem se estiverem "por cima" dos outros, se se sentirem os melhores... quando, na verdade, atitudes dessas só fazem com que desçam cada vez mais, pelo menos na minha consideração. Como se "vos" interessasse...
Aprendi das formas mais difíceis que, tarde ou cedo, acabarei sozinha, só eu e os meus problemas. Eu, e o meu subconsciente que, apesar de não falar, é sem dúvida o meu maior juíz e o meu maior entrave.

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