Ímpar

As memórias não param. Atingem-me como um furacão de emoções que ora me aquece o coração, ora mo congela. No fundo, sei que dei o melhor de mim. Mas podemos sempre fazer mais, ser mais. Hoje, somos apenas duas almas perdidas no mundo, também ele perdido de louco.

Fecho os olhos e lembro-me da tua face. Sinto um arrepio que me percorre, idêntico ao que o teu toque me proporcionava. Envolvo-me no teu abraço e sonho; um sonho que em breve se fará distante, turvo.

Sei o quanto amavas a praia. Os tons do mar lembrarão sempre a cor dos teus olhos, porventura janelas com vista para essa doce alma - que acalma. “Tenho tanta sorte”, dizias-me tu; e eu nunca acreditava. Hoje, sei que fui a tua sorte. Mas também sei que jamais serei aquilo que procuras - se é que sabes o que queres encontrar.
               
Vou sempre saber de cor os teus pratos preferidos, assim como aqueles de que não gostas; e que odeias comer mal acordas. Vou lembrar-me do teu cheiro, mesmo quando o teu peito não for mais o meu encosto e der lugar à almofada fria. A tua gargalhada será sempre o eco das memórias enquanto as lágrimas me queimarem a face. Porque quando tu ris… ah, o teu riso; o teu riso era a minha plenitude, a minha euforia. Eu amava ver-te rir. Mas acima de tudo, eu amava rir contigo. Naquele momento, eu era eu: sem máscaras, sem capas nem vergonha de mostrar os caninos (que tanto detesto), porque contigo eu não tinha defeitos. Não havia tempestade que me assolasse, nem tristeza que me abatesse. Tens esse dom. E eu agradecia todos os dias da minha vida por isso.

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