8 de Março em reflexão

Sonhadora.
Teimosa.
Idealista.
Revolucionária.
Sensível.
Defensora dos fracos e oprimidos.
Bicho do mato.
Iludida.

Esta sou eu aos olhos de alguns parentes e amigos. Pouco me importa os adjetivos que utilizam; sei que faz tudo parte do processo de evolução (não só do meu, mas também do deles).

Soube, há uns tempos, que tinha uma prima ligada ao Movimento Democrático de Mulheres de Lagos. Conheci-a hoje, dia 8 de Março de 2021, sob pretexto de trabalho, em meio de uma acção que visou assinalar o Dia Internacional da Mulher. À semelhança de outros anos, o núcleo tomou a liberdade de oferecer cravos e poemas pelas ruas da cidade, para que o propósito deste dia não caísse em esquecimento. Escusado será dizer que bastaram dois dedos de conversa para perceber como contraíra o gene do inconformismo.

Há 46 anos nascia o Dia Internacional da Mulher. Hoje a luta não saiu à rua como de costume — o vírus não deixou margem para abraços de compaixão. Ainda assim, dentro do possível, reconforta-me saber que houve quem não deixasse morrer esta data. De forma mais ou menos efusiva, o intuito mantém-se: lutar pela igualdade de género.

O ano era 2019. Algures por esta altura estava eu de cartaz em punho, em marcha pelas ruas de Lisboa. Mas apesar da energia indescritível que se fazia sentir, não deixo de recordar a estranha sensação de impotência que experienciei ao chegar a casa naquele 8 de Março. Curiosamente, hoje reconheço em mim também esse sentimento. Não fazia sentido ir p'ros copos celebrar, nem faz (mesmo que desse). E entre uma panóplia de quotes empoderadores, lembro-me que nenhum deles fazia jus à minha ânsia.

O propósito deste dia não é perseguir homens com forquilhas; trata-se, pois, de desconstruir o patriarcado, esse monstro que fere, rebaixa, agride, manipula, silencia, viola e mata. Hoje é dia de tomar consciência disso. Façamo-lo como melhor soubermos.

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