8 ou 80

Costuma dizer-se que tudo o que acaba em “-ismo” é mau. A ser verdade, porque tememos mais certos abismos que outros?

Ninguém gosta de etiquetas, embora passemos maior parte do tempo à procura de autocolantes; algo que nos acrescente, que não dê muito trabalho e ainda assim fique bonito nas nossas preciosas cadernetas de rebordos incompletos. Fazemos escolhas carentes, ocas; tudo em função de novos cromos e com vista a preencher antigos espaços em branco. Uns valem mais que outros, é sabido.

Ao final do dia, pousamos a cabeça na almofada e tentamos dormir, aparentemente mais realizados. As páginas enchem-se a pouco e pouco e o livro das figuras não tarda estará completo, sob a convicção de que quantos mais tivermos, mais felizes seremos. Uma ilusão e tanto, quase digna de um conto de fantasia.

A todo o vapor (ou vagar?) vejo-nos caminhar para um fosso de “não quero saber” e sementes de “deixa estar”. Não as planto, porém também não lhes colho os frutos. Gostava de ser melhor agricultora, mas brotei flor-de-estufa e falta-me calo.

Desconserta-me saber que nem sempre posso fazer o certo — e que até isso é subjetivo. A linha surge cada vez mais distorcida, mais apagada; mas não menos pisada. Transcendemo-la quando dá jeito e assim vamos vivendo, à mercê do tempo e em virtude do que melhor nos apraz — como um íman invisível que nos liga o olhar ao umbigo.

Há dias em que só queria desligar o interruptor e permanecer alheia face a tudo o que se passa no mundo, não vou mentir. "Pensar dói", já dizia o outro. Talvez por isso sofra tanto de enxaquecas.

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