Factos e "porquê(s)"

(Parte I)

“És mesmo difícil, rapariga!” – e não é que sou mesmo? É curioso, de facto, como uma pessoa tão transparente como eu consegue ser tão complicada e, ao mesmo tempo, tão fechada no que toca a demonstrar sentimentos negativos. Será defeito? Ou será feitio? Quem quiser compreender-me, que me assemelhe a um pedaço de vidro. Se me atirarem ao chão, inevitavelmente eu quebrarei. Mas o que acontece a quem pisa vidros partidos? Exacto… corta-se. E eu sou assim, sem pôr, nem tirar. O pequeno e, ao mesmo tempo, tão grande coração que carrego no meu peito todos os dias, também tem limites. Ele também se fere. Ele também quebra… Mas continua sobrevivendo, ainda que colado pela milésima vez com fita-cola. Ele tem cicatrizes. Ele tem marcas. Não são visíveis, mas eu sinto-as, mais e mais à medida que me vão desiludindo. Mais, e mais, e mais, e mais… e não pára. Ele nunca, mas nunca pára de doer. Apenas acalma. Será mesmo necessária toda esta dor? Eu já aprendi a lição... Já aprendi que não me devo atirar de cabeça e tudo o mais, mas é que ao princípio parecia tudo tão certo, e agora… já nada faz sentido. Já nada me cativa. Já nada me prende. Já nada me faz sentir o que sentira ao início. Aquelas borboletas na barriga; aquele formigueiro que me percorria de cima a baixo, até ao mais ínfimo pedaçinho de mim; aquele súbito acelerar do coração; onde ficou tudo isso? Onde fiquei eu? Onde ficaste tu? Onde ficámos nós?!


(Continua…)

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