O teatro que é a vida

Personagem principal - descrição

À primeira vista, ela é uma rapariga comum. O seu tamanho, por norma, ilude quem somente a observa, pois denota uma inocência extrema, mas que nem sempre se confirma. Aliás, esse “ideal de inocência” não é totalmente real. Ela sabe impor os seus limites, assim como quando responder por si. É, ela é pequenina – bem pequenina, para dizer a verdade. Mas quem tiver a oportunidade de lhe conhecer o coração ou de experienciar a sua bondade, com certeza a verá de outra forma. Digo isto porque ela é a maior prova de que as aparências iludem. Ela que o diga…
Não é muito magra nem muito gorda. Possui cabelos mais ou menos longos, ondulados, que, com o sol e o mar, foram aloirando a pouco e pouco, pelo que se torna difícil atribuir-lhe uma cor única; ela gosta disso. Se há coisa que faz constantemente é tentar esconder os seus sentimentos mais negativos como, por exemplo, a saudade, ou até mesmo quando está desiludida com algo ou alguém. Quando está triste, tende a omiti-lo para não prejudicar os demais à sua volta com o seu mau-humor, tem medo de os saturar com os seus problemas, apesar de ser a primeira a disponibilizar-se para ouvir os dos outros. Nem sempre foi assim, embora tenha aprendido, de há uns tempos para cá, a fazê-lo cada vez melhor. Ainda no outro dia estava triste e caiu-lhe uma lágrima. Perguntaram-lhe o que tinha acontecido, ao qual ela se limitou a responder “Não é nada, foi o vento”. Mas o seu olhar mostrava muito mais. Mais até do que aquilo que ela queria. Ela esquece-se de que os seus olhos verdes, vagamente rasgados e de forma amendoada, são o espelho da sua própria alma. Quando a tristeza – e não só – lhe bate(m) à porta, eles subitamente enchem-se de lágrimas que rolam sobre a sua face ligeiramente empalidecida e levemente rosada nas maçãs. Ela não as controla e muito menos as evita. Talvez seja esse um dos seus maiores defeitos: a sensibilidade, que, em demasia, tende a prejudicá-la sem querer.
O seu andar é…, como hei-de lhe chamar? Talvez… peculiar. Demasiado rígido, vá. Já para não falar no seu lábio superior que, por ser um pouco fino, faz com que pareça estar sempre "de beiço", expressão já bem conhecida dos seus ouvidos. Parecendo que não, isto leva a que, por vezes a tomem por convencida ou arrogante. Além disso, ela não se limita a olhar para o chão enquanto caminha. Ela observa tudo ao seu redor, ainda que não seja muito atentamente, pois leva sempre o pensamento cheio de inquietações. As pessoas que a contemplam irão com certeza notar-lhe um ligeiro toque de “narizinho empinado” e mesquinhez. Mal sabem eles(as) que, no fundo, ela é apenas uma rapariga insegura a tentar viver os seus (quase) dezasseis anos em paz e sossego.Desilude-se bastante. Já está tão habituada, que come enganos todos os dias ao pequeno-almoço. Ela nunca encerra por completo a possibilidade de que a venham a magoar e não toma nada como certo, mas por vezes existe algo que faz com que se esqueça disso. É estranho. Mas provavelmente dever-se-á ao facto de acreditar demasiado no lado bom das pessoas e no facto de elas mudarem (para melhor), apesar disso quase nunca se confirmar (pelo menos aos seus olhos), o que a entristece. Isso fá-la colocar-se a si própria em causa. A si, e à sua maneira de ser, de pensar, de agir, de analisar, de avaliar, de sentir, de estar (para com) as coisas… daí a sua insegurança, que só os mais próximos dela têm oportunidade de conhecer e experienciar. Ela não se “dá” a qualquer pessoa e muito menos se deixa revelar por completo (até porque se o fizesse não tinha piada “descobri-la”). Ela apenas deixa que vejam dela aquilo que bem entende. Possui o dom extraordinário (ou não) de se enganar constantemente no que diz respeito ao interior das pessoas: se ela te estender a mão, não lhe agarres o braço; ela pouco a pouco to dará sem que seja necessário que o peças. Neste contexto, ela vê-se quase como se fosse obrigada a mudar a sua maneira de ser, então exige demasiado de si mesma, o que faz com que o seu valor nem sempre se reflicta nas suas atitudes e estraga tudo. Ela chama-lhe impulso. Por vezes, quando sofre, atribui as culpas ao facto de que o seu coração nem sempre sabe funcionar pacificamente com a mente, e isso deixa-a confusa. Ela formula questões no seu íntimo, questões às quais dificilmente consegue responder, mas que, com o tempo, vai aprendendo a justificar. Afinal, tudo tem o seu tempo, e se existe alguém que acredita realmente nisso, esse alguém é ela. Por ser o cúmulo da sensibilidade, tem por hábito dizer tudo o que sente, ainda que não seja directamente. E mesmo com todos aqueles sentimentos sempre à flor da pele, define-se por ser uma pessoa pacífica e que não gosta de agir sem analisar todas as consequências. E existe alguém perfeito? Ela também erra!, só que emenda. Ela falha, mas corrige. Ela cai, mas levanta-se. E não está sozinha…
À parte de todas as inconstâncias e irregularidades que a vida lhe vai apresentando, ela não desiste do que vale a pena, mas sabe distinguir amor de caridade. E se há coisa que ela aprecia verdadeiramente é o reconhecimento dos seus actos, principalmente por parte daqueles que lhe são realmente importantes. Ela dá tudo de si própria, mesmo que não receba nem metade daquilo que emitiu. Ela coloca o mundo inteiro à frente dela mesma e escolhe resolver os problemas dos outros sempre em detrimento dos seus. Ela é assim… um “coração-mole”, cego e surdo, por vezes, mas nunca mudo.
 E não, ela não é fácil, isso é certo. Mas lidar com ela não é assim tão difícil como parece. A dificuldade está em pôr-se no lugar dela e ver a vida pelo seu prisma, através dos olhos dela, com o coração dela.

A verdade é que me orgulho desta pessoa todos os dias da minha vida, apesar dos seus mil e um defeitos. Porque essa tão simples e ao mesmo tempo tão complicada rapariga - aquela que passou todo este tempo a tentar compreender-se a si própria; aquela que todos os dias tenta moldar a sua personalidade de modo a que, um dia, alguém se orgulhe dela e a valorize... sou eu.

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