Trespassa-se

Custa-me saber que fomos apenas uma fase. E ainda que tenhamos tido pleno significado - que tivemos - dói saber que nunca iremos passar disto: uma memória boa.
Ter consciência de que o meu lugar mais tarde ou mais cedo será ocupado destrói-me por dentro. Que horrível sentimento de posse. Mas o ciclo da vida é esse, certo? Aprendi que quando amamos alguém de coração, deixamos essa pessoa livre. Assim o fiz.
Eu sempre temi este dia. O dia da (in)certeza. A hora do "desapego". O momento em que a real barreira acabaria por se tornar grande demais, até mesmo para nós e para a nossa pureza. Mas como todas as fases não passam disso mesmo - fases - esta também há-de passar. O que me causa calafrios é esta sensação de perda; sentir que nunca me irei recompor a cem por cento, porque só tu me poderias fazer voltar a ser quem eu era antes. Quem sou? Detesto isto. Logo eu, que sempre soube tão bem quem era; a defensora abrupta da complementaridade ao invés da completude. Matem-me a esperança de uma vez por todas, levem-ma do peito. Joguem-na ao mar e não ma tragam mais. Esperar dói. Mas não saber o que esperar, dói muito mais. E pior que isso, só mesmo já não saber nada. Não saber de mim, não saber de ti. Porque a(s) dúvida(s) persiste(m), assim como toda esta confusão tremenda dentro de mim.

Como é que se esquece alguém que nos deu tanto para lembrar?

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