8 de Março

É Dia da Mulher. As ruas de Lisboa encheram-se de pessoas capazes e discursos inspiradores. Hoje eu não celebro, não vou p'ros copos. Fui marchar. Gritei, cantei, chorei. A energia que pairava não tem descrição possível, embora tente encontrar uma. Senti-me abraçada - e abracei. Nunca tinha feito parte de uma manifestação feminista e a união de todos os presentes fez-se sentir tipo magia. Mal cheguei a casa e comecei a percorrer a galeria do telemóvel, suspirei em tom de "já fiz a minha parte". Mas não fiz. Pensar que sim é ser egoísta quando ainda há tanto por que lutar. De que serve uma fotografia no Instagram de cartaz na mão? Não há quote empoderador que seja suficientemente revolucionário. Enquanto clicamos em "publicar", mil mulheres aguardam a luz ao fundo do túnel a oceanos de distância e outras tantas abafam o choro na almofada quiçá mesmo no prédio ao nosso lado. As realidades são várias e tão duras que muitas vezes nem nos passam pela cabeça. Não se trata apenas de Portugal e sim do mundo inteiro. Quero fazer mais, ajudar mais. Estou introspetiva, sinto-me impotente. Era mais fácil estar numa discoteca qualquer a servir de isco em plena "Ladie's Night" - mas não estou. Estou entre estas quatro paredes a pensar que o muito nem sempre basta e que o ser humano é, de facto, cruel. Tenho tantas constatações a atravessar-me o pensamento que nem consigo escrevê-las a tempo. É quase como se estivesse de luto, se é que tal faz sentido. Engraçado como as coisas mudam, como eu mudei com o passar dos anos. Sinto-me a florescer. E é tão bom sentir a conexão! Está tudo ligado. E do que depender de mim, farei o que estiver ao meu alcance para derrubar barreiras - pelo menos no que toca ao diálogo.

«Mesmo soFRIDA, jamais me KAHLO!»


Dedico estas palavras a todas as mulheres que diariamente se debatem com as consequências do patriarcado e, ainda assim, não deixam de lutar por um amanhã melhor.

Às que sonham ser livres das amarras do capitalismo;
Às que tentam fugir ao máximo das projeções irrisórias do sexo masculino sobre si;
Às que se fazem ouvir mesmo entre multidões de homens furiosos;
Às que dizem “não” às expetativas de servilismo e conformismo;
Às que resistem face à tentativa de objetificação e comercialização do seu corpo;
Às que cuja voz lhes foi tomada, condenadas a um silêncio ensurdecedor;
Às que deram o corpo ao manifesto e hoje jazem em nome da revolução.

Em suma, a todas aquelas que, num mundo em que querer ser dona do próprio destino é visto por muitos como um ato de rebelião, ajudam a/ajudaram a/anseiam por quebrar estereótipos independentemente da raça, etnia, idade, classe ou religião.

Obs.: A dedicatória em questão acabou por vir a fazer parte da minha monografia final de curso (cadeira de Seminário), intitulada FEMINISMO NA ATUALIDADE -
O FEMINISMO ANTICAPITALISTA: OPRESSÃO DO PATRIARCADO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ENQUANTO PERPETUADOR DA MISOGINIA
e avaliada em 14 valores.

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