Um Eco no Tempo

Escrito a 25 de Abril de 2018

Há quarenta e quatro anos atrás, vermelhos cravos marcavam o tom de uma revolução há muito esperada por todos, preenchendo os canos de centenas de espingardas em sinal de protesto. Reza a lenda que estes teriam sido oferecidas aos soldados por Celeste Caeiro, desde então conhecida por “Celeste dos Cravos”.
A 25 de Abril de 1974, Celeste alegrou Lisboa com flores encarnadas. Hoje, o povo celebra o Dia da Liberdade sob céus preenchidos por fogo de artifício e melodias várias, que unem milhares de portugueses e enchem praças por todo o país em nome da Revolução. Entre os mais antigos, cantam-se temas a favor da liberdade e recordam-se tempos passados, reavivando-se memórias de uma época dura. Ficam apenas as histórias de quem sofreu na pele as consequências de um regime opressivo, violento e controlador, contadas ao sabor do vento entre copos de vinho tinto num qualquer café.


Esta quarta-feira, os temas de Zeca Afonso, Manuel Alegre e outras personalidades fazem pleno sentido. As ruas ganham, de novo, cor e fazem-se desfiles em honra da Liberdade, unindo novos e velhos num jubileu de emoções que ficará, para sempre, registado no tempo e corações de muitos portugueses. Celebra-se o fim de um período de repressão, perpetrado por uma ditadura cuja inexorabilidade abalara a fé de um povo, mas mesmo assim não o impediu de sonhar com um amanhã melhor. A esperança abre portas e, por isso, hoje saudamos a abertura de um novo caminho – o caminho para o progresso, livre de censura; um caminho longo e promissor, porém, de estradas sinuosas e traiçoeiras. 
Escrevo em espírito de louvor, mas também de apelo, porque cogito que a liberdade, além de ser um direito, é uma dádiva. Tomá-la como algo garantido é de tal forma enganador quanto redutor. Neste sentido, almejo conseguir exprimir em poucas linhas o meu pedido: que nunca deixemos de lutar, de querer, de acreditar. E porque nada somos sem uma voz, hoje quis fazer ouvir a minha, acompanhada do Fado e seus acordes vibrantes que me inundam o quarto de uma nostalgia tensa, suspicaz e ressonante, como um eco no tempo.

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